Fim de um ciclo


Há dias que só choro num misto de emoções e sentimentos; a gratidão de estar terminando um mestrado se mistura com a minha preocupação sobre o temido vírus que ainda nos aterroriza. 


Que sorte a minha ter a oportunidade de estudar. Sorte mesmo! Quase todos meus tios e tias- assim como meus pais- tiveram que começar a trabalhar ainda na infância. Eu tenho um orgulho enorme da minha família. Não seria nada sem eles. 

Papai. Meu amado pai saiu do interior de São Paulo e foi cursar a universidade na cidade grande, mas foi obrigado a parar após a minha chegada. Para me dar uma melhor qualidade de vida, ele trabalhava em três lugares diferentes e estava ficando difícil tomar conta de tudo. Eu sei que papai não se arrependeu de ter feito esta escolha, nenhum pai se arrepende de abdicar de algo em benefício do filho. Eu tenho tanto orgulho dele, gostaria que ele me visse (uma jovem linda senhora) terminando um mestrado em outro país. Teríamos churrasco em casa com toda certeza. Papai tocaria sanfona para nós. Ah, gostaria que ele visse tantas outras coisas que aprendi e ando aprendendo desde que ele se foi. 

Mamãe. O sonho da minha mama era ser médica e, como uma grande parcela das mulheres da geração dela, a vida a levou para outra direção. Mama é um crânio, muito inteligente. Me lembro dela nos motivando e ensinando tudo que sabia. Acho que a minha paixão por livros veio dela, que lia histórias para eu dormir. Mama sempre foi muito boa empreendedora também. Papai dizia que mamãe era muito CDF e ele tinha razão. Quando papai partiu deste mundo, mamãe reuniu forças, se reorganizou e conquistou muitas coisas. Eu, como filha, adoraria ver os comentários de papai sobre ela: “sua mãe tem uma cabeça para negócios que Nossa Senhora” “a Zinha é muito negociante, tira leite de pedra”. É papai, mamãe é incrível. É papai, mamãe é muito CDF e astuta. É papai, vocês dois “tiravam leite de pedra”.  

Hoje, após formatar meu trabalho de conclusão de curso, sinto que realmente terminei este ciclo. Mestrado em outra língua, numa universidade concorrida já não é fácil, mas fazer uma parte dele em época de confinamento e pandemia foi realmente desafiador. Muitas vezes chorei olhando a foto dos meus pais colada na parede em frente ao meu computador. Confesso que foi essa foto que me deu forças para continuar. Me espelhava neles. Meu amado marido também me apoiou demais, me amparava com palavras e amor quando eu mais precisava. Ficamos um ano sem fim de semana de “curtição”. Não posso me esquecer da minha família e da família que ganhei após me casar, ambas diziam a todo tempo que tinham orgulho de mim quando vi am a minha exaustão. Minhas amigas maravilhosas me faziam rir, choravam comigo e diziam ‘logo isso será só um passado’. 

Elas tinham razão. Agora meu mestrado, as minhas aulas, os intermináveis trabalhos e as longas provas são só lembranças. Um passado que já sinto saudades. Sim, porque ter um desafio não significa tristeza. Para sentir o sabor da vitória como sinto agora é necessário dedicação, apoio de pessoas especiais e, acima de tudo, acreditar em si. Eu me sinto realizada neste momento. 

Dedico este mestrado aos meus pais, marido, afilhada amada, família (a minha e a que ganhei que também é minha) e a todas as mulheres que assim como eu estão indo em busca de seus sonhos, independentes de serem bem jovens ou jovens, jovens senhoras ou senhoras sendo esses sonhos profissionais ou não. 

Fecho um ciclo e abro outro cheio de desafios, descobertas, mas tenho certeza que cercado de amor porque como sempre digo “sou uma pessoa de muita sorte”. Que venha algo tão maravilhoso quanto foi essa minha aventura. Que venha aprendizado. Que venha amor. Que a saúde continue. Obrigada, Deus.

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