O padeiro
Confinamento - Dia 3
Tenho muita na sorte na vida e sempre soube disso. Só para vocês terem uma ideia, eu tenho praticamente na esquina de casa uma padaria de bairro. Ela é pequena e possui três estantes com umas seis prateleiras recheadas de pães de todos os tipos: pão integral, baguette, pão de centeio, de milho, de mel, de aveia. Pães em geral. Mas é na parte do balcão que ficam as suas maiores riquezas e vou citar apenas duas: o croissant e o brioche açucarado. Deus do céu, eles são deliciosos! O croissant ganhou o prêmio de melhor croissant do norte da França. Viram como tenho sorte?
Ir à padaria aos sábados é uma tradição familiar. Papai, que Deus o tenha, levantava cedo todos os sábados ia à padaria e comprava: 10 pãezinhos, salame, queijo prato e mortadela. Adorava ir com ele porque sempre pedia para ele comprar carolinas recheadas com doce de leite. Bons tempos. Hoje em dia, sou eu quem vou. Adoro tradições familiares! E, como aqui não tem frios na padoca, compro croissant e baguette para animar nossa manhã.
O padeiro, apelidado carinhosamente por mim de Monsieur do pão, sempre me recebe com um sorriso no rosto. As vezes chego na padaria ainda muito cedo e as vezes faz muito frio. O frio não congela o sorriso do Monsieur do Pão, que sempre está por dentro dos assuntos do Brasil. Ele adora saber sobre nosso país. Como nem tudo são flores para uma estrangeira, no começo ele tinha uma certa dificuldade para entender meu sotaque. Hoje em dia, é capaz de ser tradutor juramentado das coisas que falo.
Além de ser padeiro, Monsieur do Pão é também meu colega de academia, frequentamos o mesmo lugar. Muito legal ver que o padeiro cuida da saúde. Ele também gosta de flores, sei disso porque semana passada, antes das nossas vidas mudarem, o encontrei na floricultura perto de casa. Eu estava com meus primos e ele (sorrindo) me deu um bonjour.
Engraçado, pensando agora, vejo que Monsieur do Pão tem sempre o mesmo sorriso no rosto, seja na academia, na floricultura ou na padaria. Ele deve ser feliz, ele deve ter uma vida legal, mas nesse momento, ele deve estar exatamente como eu, apático, em choque e esperando por dias melhores. Bon courage, Monsieur do Pão. Obrigada por fazer pães deliciosos para nós.
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